A arte do olhar fotográfico

Ao mesmo tempo que as culturas mais avançadas no quesito civilização tem maior capacidade de abstrair certas ideias ( porque isto é exatamente o hábito que define civilidade e educação), também tem maior capacidade de manter as coisas abstraídas, separadas, sem qualquer ligação entre si.
Essa maneira Euroamericana de pensar que as coisas se conhecem a partir de sua dissecação, como se o próprio ser humano pudesse ser montado e desmontado por partes como se fosse uma máquina, se expalha e se mantém através da constante reprodução desse modelo de pensamento e comportamento.

Dentro dessa maneira de "ver" as coisas, a ninguém se lhe ocorre que um bife é um pedaço de animal e que também os seres humanos são animais e que existe mais semelhanças entre comer um bife e o canibalismo que entre comer um bife e comer uma maçã.
Nessa cultura abstracionista o ato de saborear é saboteado pelas informações que já se têm acerca do que se come. Um suco de laranja de cor verde é caracterizado como suco de couve e ninguém se dá conta que está sentindo gosto de suco de laranja.
Os unicos hábitos de degustação que se mantém são: sentir o vinho, o café, o tabaco e algumas poucas especiarias. E é interesante pensar como estes, com excesão do perfume, são todos muito masculinos.
Ao comer, o hábito de experimentar (sem objetivo e hispotese nenhuma) é uma prática infantil que vai sendo apagada minuto a minuto até sua desaparição completa na vida adulta.
Sobre estes povos, que não têm o hábito de abstrair, também se lhes atrabui a incapacidade de compor, porque não teriam metáforas e quase não fazem analogias.
Não obstante, em se tratando de composição, o olhar livre de abstrações tem provado poder mais que os armados delas.
A arte de ver prescinde da degustação e sua enologia se desenvolve sobre o sabor da imagem.

Nessa prática, a fotografia é o vinho dos alcóois para os olhos. De sua composição nasce o vídeo, que ao casar-se com a música assume o status de perfume na hierarquia dos destilados.
A composição do olhar não precisa ter um profundo conhecimento da evolução das espécies para relacionar uma foca com um gato, enquanto a civilização abstracionista acha mais semelhanças entre um coelho e um pato que um parentesco entre um felino e um mamífero marinho.
Comentários
Postar um comentário