Sobre essa irregularidade de escrever e a vontade de estar fora...

... fora do discurso, ou pelo menos fora do labirinto das fontes, porque nenhum arquivo é regular, nem se faz de ordem e nos seus cruzes há mais esquizofrenia do que sonha nossa vã filosofia (e pros que acham que eu estou louca e que nada disso faz sentido, não faz mesmo, e estou mesmo, tentando fortemente estar/ficar louca, só que sem agressividades maiores, mas na serenidade de quem se perde, sabe que se perde, e que luta por saber, mas não consegue ter noção das errancias, inclusive porque se as tivesse, elas seriam aventuras e não errancias...

Estou aqui a escrever um texto e acho que posso dominá-lo: arial 10, espaço 1,5, parágrafo 1,25, claro que posso, só que era para falar das imagens e como elas aparecem, quais são suas condições de possibilidade, de visibilidade, que são todas extrínsecas a elas, obviamente, mas também inerentes. Os pintores Holandeses, são os primeiros que me aparecem na mente, mas depois vem o Magritte (porque eu amo muito os trabalhos dele_ até fiz uma viagem para Bruxelas só para ver o museu Magritte_ que me decepcionou em partes, era algo esperado, problema é que grande parte das obras não estão lá), mas daí já não sei do que tava falando. Ah sim, das condições de inteligibilidade de enunciação e aparição das imagens, daquilo que a Butler (também gosto dela, mas não consigo entender direito, sempre tenho essa sensação de que algo me escapa nos seus textos_ deve ser a língua_ não, as traduções são boas, deve ser o universo mesmo, é denso, ela fala a partir de Hegel e Derrida, teria que estudar profundamente os dois para entendê-la. Ou teria que me dedicar mais a ler Austin, sim isso deveria fazer), a Butler, dizia eu, fala sobre os frames enquanto quadros que emolduram as imagens que vemos e que nos coloca sempre numa perspectiva, nosso olha já nasce em perspectiva, desde uma perspectiva. No início eu pensava, como Foucault (não vou falar nada sobre eu gostar de Foucault), ou como uma má leitora de Foucault e que o vê como um estruturalista meio arrependido, que o que formatava a perspectiva era a epistéme, ou seja, o solo cultural, discursivo, o conjunto múltiplo de enunciados... que dava este enquadramento e perspectiva, só que daí me dei conta, lendo melhor o próprio Foucault e pensando nestas coisas sobre os frames, que o que dá perspectiva é o sujeito.

Sim, pasmem, mas não é o sujeito consciente, nem nada que nos leve a pensar nas teorias do sujeito transcendental (duplo-empírico-tansecendental) do Kant, ainda que a coisa tenha sua origem aí sim. O sujeito que dá sentido, inclusive a si mesmo, é essa força desde a qual a perspectiva parte, e ela parte sempre daí, sendo ele quem cria a epistéme, já que ao enunciá-la, a forma e  dá um jeito de forçar e forjar sua própria existência nela, ou em qualquer uma. É essa força de vontade do sujeito (sim to pensando no Nietzsche agora, mas deixa pra lá, pq a narrativa tem que ser ordenada_ aliás to escrevendo em Times New Roman, 12, troquei) que insiste, e que resiste em certa medida, a se manter e a se dizer autônomo e inscrito no tempo. O sujeito, assim, não é nada anterior, acabado é só inclinação, é força egoísta (reivindicada pela psicanálise do Freud_ tinha que dizer que não gosto do Freud, mas to fazendo análise, não gosto mas acho que pode ajudar, numa dessas ajuda mesmo), é força egoísta, repito, que se forja como sujeito, que faz si bem do que esse ponto de partida e  inclusive cria (possibilita) discursividades (inteligibilidades) que formatam as epistéme. Uma força que se perde no emaranhado das idéias, mas que é neurótica e sempre tenta transcrever (mise-en-écrit) o que articula, todo o enunciável de uma língua, todo o localizável em um território e tempo. Em meio a esse perder-se, perder o fio, perder a linha e tentar trazer revolta se criam novas ficções. Seria melhor dizer, partes linguisticas, frases, contos, histórias, argumentos, que compõem uma nova ficção e que SE se conectam entre si, no tempo e no espaço, se se ligam com as anteriores e com as sucessivas, NÃO é porque correspondam a nenhuma ordem no campo do fora da linguagem,  não é porque digam ou queiram dizer o que inicialmente se buscava ser dito, mas porque se perdem. Se se busca dizer o que se quer, se domina, se conduz, e se estanca o livre pensamento. Por isso esse labirinto, por isso os Arquivos como labirintos, conjuntos de enunciados que ao habitarem livremente o mundo desafiam a ordem do texto do historiador que quer dominar, criar narrativa, friccionar e que se perde, e ao perder-se volta e consegue, só assim consegue, compor o Arquivo. A cada erradica se instalam linhas de fuga, ficções que vão, andam, treslouqueiam e FRANQUEIAM, DESTROEM FRONTEIRAS (desconstroem_ e sim pensei no Derrida, e sim tinha que ler mais sobre isso também, mas aí é isso, mais fontes e a cada nova fonte mais um labirinto, mais um platô do labirinto)

E os quadros? Na erradica a coisa sai em,  pura luz, sem escuro, sem opostos.
(será?)


Deixa eu voltar ao sujeito (taí a luta, tentar dar ordem ao discursos, depois de muitos delírios, que dificilmente sejam inteligíveis, ou traduzíveis, mas que dizem algo por aqui ou por lá, volta-se a tentar dominar, na luta constante e serena), o sujeito dá perspectiva, mas sua ação não é autônoma (isso devia ter ficado claro desde antes, será que estou me repetindo?_ droga terei que revisar o texto_ enfim, não este, o outro,  aquela com o qual to lutando de verdade, este é só vertigem_ gostei da palavra, anotada, a usarei logo), o sujeito é sujeitado (Foucault de novo), não é dominado por forças exteriores a si, mas é formado em concomitâncias com elas (agora é a Butler, mecanismos psíquicos do poder) não há, não tem um sujeito antes da interpelação, ele se faz sendo, performatizando (ufa, será que entendo bem isso?), então é um sujeito que coabita o mundo ao lado das outras fontes, que força existir e dar sentido, mas que o faz sempre (em todas as vezes e sob todas as condições) a partir de tudo que o atravessa e é atravessado por/com ele, e tudo que o conforma (conformar é um bom termo porque dá essa noção de coisa cruzada com tudo e que não é se não for cruze, forma com, sempre com, nunca fora do com-junto).

Agora, precisava fechar, acabar o raciocínio, não chego aonde acabar. Nas imagens? (forçando renovo, já notam). Volto às imagens (mais luta) e como elas aparecem em quadros, sempre enquadradas (tem aquela música_ meio brega, melhor não mencionar aqui) só o esquizofrênico não se enquadra, ou será que sim, não mas é excessão, ninguém aceitaria um texto esquizo, não porque é ruim, já que pode ser melhor que muitos, mas porque o leitor não entende. Voilá um modo de terminar. Jogar essa coisa do escritor para o leitor, quem lê controla, ao escrever me leio e controlo, mas ao ler as fontes, essa loucura de frases e documentos e fotos e ofícios e rabiscos que se me apresentam a força está no ler, porque ao ler organizo. Então as imagens se fazem nesse enquadramento que o leitor (sujeito ainda) dá, os olhos enquadram e fazem lisível um texto, uma narrativa, um frame, imagem, mesmo que a imagem já venha enquadrada de certa forma, porque há um escritor, pintor, fotógrafo e este é ator-receptor, é escritor-leitor, este forma o leitor, mas é formado põe ele... (enfim, o ciclo das dualidades). Acredito, ainda (luta renovo) que há espaços, que tem de haver, onde os quadros apareçam trançados uns nos outros e onde a força de fazer narrativo o pensamento que divaga e que se faz vertigem (usei a palavra, é boa mesmo_ aqui tinha que ser verbo, mas acho que não existe, soa mal: vertigineia) veja enquadrado mas a cada mirada o fio se enrola de um novo jeito, molduras sim, só que entreveradas. 

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