perdi meu moleskine
Não tinha endereços, nem telefones, nenhuma senha de banco, nem meu tipo sanguíneo, nem a data da última menstruação, nem o local do proximo encontro. Absolutamente nada que pudesse ser imprescindível para que eu continue vivendo nesse deserto do real , como diria... como diria.... não sei quem disse isso. Essa frase e o seu autor estavam anotados no caderninho, este que pedi.
Poesias copiadas, desenhos, até aquela florzinha que ele desenhou pra mim no dia que eu estava triste porque recebi uma noticia triste. Também tinha todos os souvenirs da ultima viagem presos com clips e um monte de histórias do que nos aconteceu por aqui e por ali durante o trajeto. Ah flor azul seca que colhemos na montanha, o desenho de coração na data do seu aniversário, a frase de auto-ajuda para ser lida todos os dias e todas aquelas ideias malucas que sempre tenho que ainda não realizei nenhuma.
É bem mais que perder um objeto, é perder esse pequeno prolongamento de memória que me acompanhou nos último tempos, e que traz nele bem mais de mim do que eu mesma poderia resumir e lembrar (incluindo frases, postagens, perfilagens virtuais e nomes de autores).
É perder o símbolo de toda uma simbologia. E nessa perda, há uma ambiguidade perversa (quase induzida, poderia dizer qualquer psicanalista) que é a magia, ou o fetiche de: buscar outro. E, como se não bastasse, o prazer de tê-lo todo em branco, para (re)fazê-lo objeto, para (re)simbolizá-lo.
Comentários
Postar um comentário