HISTERIA E O MACHISMO DO PRESIDENTE, ou a feminização de atitudes publicamente reprováveis

O atual presidente da República do Brasil afirmou recentemente que o vírus Corona “trouxe uma certa HISTERIA” e continuou… "Tem alguns governadores, no meu entender, posso até estar errado, que estão tomando medidas que vão prejudicar e muito a nossa economia”  (fonte aqui )

Histeria é o nome que foi dado por Hipócrates, o primeiro médico do Ocidente, a uma doença supostamente do útero. Em grego, língua de Hipócrates,  "Hystero" quer dizer "Útero".  Doença, portanto, de mulheres. 


Durante a idade média européia, às “mulheres possuídas” lhes chamou de “histéricas”.

A partir do século XVII as ciências médicas caracterizaram a histeria como uma doença feminina falsa, uma ilusão ou loucura específicamente de mulheres. Alguns médicos cientistas defendiam que tinha origem no útero, outros no cérebro, e outros no psicológico. Todos coincidiam que era uma manifestação feminina. 

No final do século XIX se admitiu sua desconexão com o útero e foi caracterizada como um doença sem origem no corpo,  um problema de fundo psíquico e somático. Assim, defendeu-se que a histeria tinha origem na imaginação e geralmente era provocada por algum trauma. 

Seus sintomas eram surtos (transitórios ou permanentes) de descontrole dos comportamentos, do corpo e da linguagem: paralisia de membros, espasmos, crises epiléticas, gritos, escândalos públicos, ataques de pânico, crises de medo, surtos de violência, raiva, perda de razão, sexualidade aflorada e um infinito de imoralidades encenadas e pronunciadas. Todos sintomas muito mais ligados aos comportamentos morais de uma época do que a problemas físico-psíquicos.

Só no século XX chegou-se a admitir que homens também podiam ser ou estar histéricos, em específico os "afeminados". 

Ora...  

Chamar as medidas preventivas ao contágio do Virus Corona de “Histeria" é relacioná-la a atitudes de mulheres, é feminizar ações que se quer reprovar. É caracterizá-las como loucura e doença da imaginação, só que não da imaginação humana, mas a das mulheres. O presidente desvaloriza e qualifica de prejudiciais as medidas apelando ao inconsciente de um sistema patriarcal e machista que chama as mulheres de loucas. 

Provavelmente nem o presidente, nem a maioria de nós (inclusive nós mulheres), sequer pensou em tal feminização, mas ela está aí historicamente dada e é preciso parar de chamar de histeria o que consideramos ilusório para parar de associar à um sexo e um gênero o que depreciamos. 

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