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E agora foucaltianes, vamos defender Michel Foucault ?

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 Março 2021, há 37 anos de sua morte por complicações de AIDS Michel Foucault é acusado de pedofilia. O acusador não é uma de suas supostas vítimas, mas uma pessoa que diz tê-lo conhecido e o visto consumir a prostituição de garotos menores de 11 anos na cidade de Tunis nos anos entre 1966 e 1968 quando o filósofo aí residiu.  As manchetes internacionais começaram já em fevereiro dizendo que o estavam acusando, e as nacionais começaram agora e estão sendo reproduzidas em massa nas redes sociais. No Brasil dizem que o filósofo está sendo acusado de Pedofilia, o que é estranho, pois a palavra mais adequada seria  Pederastia , já que é mais coerente com o fato do qual o acusam.  Isso revela a primeira artimanha da notícia  pois faz parecer que não há problema para esta sociedade que se trate de relações homossexuais, mas sim que seja com crianças. Com isso, tentam colocar Foucault no lugar de abusador de menores como se ele estivesse ao lado de todos aqueles homens famosos  das últimas dé

O cão de David Hockney e a temperatura humana de sua pintura.

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Véspera de Natal de 2020, pandemia mundial, todo cuidado é pouco, alguns familiares são grupo de risco e isso significa não viajar e não vê-los presencialmente agora. Fica tudo virtual. Este ano tudo tem sido assim, mais pela janela da tela do computador e do celular do que através do tato, do olfato e da experiência do corpo-presente, imerso. Chove, aqui chove muito hoje, e a chuva é um dos fenômenos mais espetaculares e incríveis que  posso entender. A água, tudo que tem a ver com a água é de uma magnificência e de um explendorosidade para mim. Mesmo que essa palavra ex-plen-do-rod-sidade nem exista.  Na tela do computador passam imagens, e imagens, e imagens, e algumas sempre se repetem e me chamam a atenção: são as réplica das pinturas do David Hockney. Meu algoritmo me enche delas.   Desde que morei em Londres por uma temporada tenho essa paixão pelo pintor. Nunca me perguntei especificamente porque gostava tanto, mas provavelmente se tivesse que responder naquela época teria dito

HISTERIA E O MACHISMO DO PRESIDENTE, ou a feminização de atitudes publicamente reprováveis

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O atual presidente da República do Brasil afirmou recentemente que o vírus Corona “trouxe uma certa HISTERIA” e continuou… "Tem alguns governadores, no meu entender, posso até estar errado, que estão tomando medidas que vão prejudicar e muito a nossa economia”   (fonte aqui ) Histeria é o nome que foi dado por Hipócrates , o primeiro médico do Ocidente, a uma doença supostamente do útero. Em grego, língua de Hipócrates,  "Hystero" quer dizer "Útero".  Doença, portanto, de mulheres.  Durante a idade média européia, às “mulheres possuídas” lhes chamou de “histéricas”. A partir do século XVII as ciências médicas caracterizaram a histeria como uma doença feminina falsa, uma ilusão ou loucura específicamente de mulheres . Alguns médicos cientistas defendiam que tinha origem no útero, outros no cérebro, e outros no psicológico. Todos coincidiam que era uma manifestação feminina.  No final do século XIX se admitiu sua desconexão com o útero

Produtos UNISSEX e os primeiros Brinquedos de Gênero Neutro + algumas questões filosóficas adjacentes

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Já ouviu falar de roupas unissex?  Acha isso bom ou ruim?  Se você não é homofóbico, se diz libertário e concorda que cada um faça o que quiser com seu próprio corpo em termos de sexualidade e afetividade, você dirá que é bom.   Porém,  se pensar um pouquinho mais, logo verá que é bem mais complicado do que isso. Pode não ser ruim, mas também não é tão bom assim .  Por quê? 1-First: Há uma apropriação do mercado das pautas humanitárias e anti-homofóbicas para transformá-las em produtos da MODA, de CONSUMO e se  ganhar dinheiro com elas .  Sim, neste sentido, sua anti-homofobia está sendo usada como propaganda intrínseca a seu próprio psicológico para que você compre um produto. O unissex é um valor que já está dado e não precisa ser criado pelo departamento de marketing de nenhuma empresa para vender mais.  1 1/2 - First and Half:  Grande exemplo disso são os taxis rosas, os espaços só para mulheres..., como esta matéria que se publicou aqui em "o feminis

Armando a barraca_ "Groin Gazing" _ ou por que o apelo sexual masculino é tão limitado?

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Enquanto ainda observamos a constante sexualização dos corpos femininos com sua exposição exacerbada e de diferentes ângulos, perspectivas e ideologias de sexualidade, uma "propaganda" de apelo sexual masculino parece limitada. As imagens dos peitorais e abdomens definidos em forma de V são o protótipo orientador dos nossos desejos, deixando deliberadamente fora deles a plástica das outras partes e principalmente do músculo da penetração, esta sim paradigma magistral da nossa sexualidade ocidental e atual.    Claire Milbrath , a jovem artista canadense que em suas pinturas que lembram as de David Hockney já pintava alguns pênis, lança uma coleção de fotos de homens em ereção associados a simbologias estereotipadas e arquétipos de masculinidade. Apesar da criatividade e do excitante que são suas fotos, Claire foi criticada por não ter fotografado corpos diversos, concentrando-se em brancos e magros, e também em arquétipos sexuais muito caricatos.

O que é ser histérica?

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O que é ser histérica (hoje)?  Photo By : Tyler Shields ... é viver tudo numa intensidade tal que quem não a vive não entende e se vê tão atacado por, que critica e condena.  Só que ao invés de se sentir coagida, a histeria se alimenta dessas críticas para reforçar uma culpabilização que reintensifica a experiência de sí enquanto experiência histérica.  Culpar-se por agir histericamente passa, assim, a integrar a histeria de modo a alimentá-la e pautar as oscilações de suas manifestações. Nessa culpa, porém, está uma associação direta (feita por si mesma sobre sí e também da sociedade sobre as mulheres em geral) ao gênero feminino.  "Histérica são as mulheres"  Hyper realistic painting: John Kacere O curioso é que enquanto nós histéricas poderíamos demandar uma superioridade pela intensidade que somos capazes de sentir e de experimentar nossas vivências, como as super-sensíveis, as super-sexuais, as super-tesudas, super-gostosas, super-amantes, supe

Sobre Democracia em Vertigem

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Um filme extremamente apreciável do ponto de vista das escolhas estéticas, do roteiro e da linguagem imagética que casa perfeitamente forma e conteúdo. Mais do que um filme que mostra os "fatos políticos atuais" e alerta para muitos jogos de poder que levaram o país à situação que está, o filme tem técnica e estética impecáveis. Esteticamente opta pelo toque delicado, e tecnicamente é feito com muito cuidado, trazendo como diferencial a opção da simplicidade e singeleza das imagens amplas, embaladas por músicas agradáveis, ficando inclusive bem marcado este detalhe nas imagens íntimas da narradora quando criança e o contraste delas com fotos de tortura (estas estáticas) logo nos primeiros minutos. Já no início nota-se que não é (e nem parece pretender ser) uma super-produção e nem busca explicar ou denunciar algo que o expectador ainda não soubesse. A abordagem (texto-imagem) é como um sobrevôo aos "fatos" a partir de uma perspectiva pessoal mas sem ser su